Alice Becker
Aquilo que não a encantou logo de cara, enquanto disciplina obrigatória no mestrado em dança nos EUA, acabou se transformando na sua grande paixão: o Pilates. Precursora do Pilates no Brasil, Alice nasceu no Rio Grande do Sul, mas se autodenomina “baiúcha”. Segundo a própria mãe, foi feita na Bahia, durante as férias, “debaixo dos coqueiros de Itapuã”! A ex-integrante do Balé do Teatro Castro Alves, conta que veio de vez para capital baiana aos 7 anos, junto com os pais e os quatro irmãos. Aprendeu o fascínio pelas artes dentro de casa. O pai era regente e cantor, a mãe cantora. Apesar de já ter se aventurado nos microfones, ao lado de cantoras como Daniela Mercury e Ivete Sangalo, além de ter sido atriz ao lado de nomes como Yumara Rodrigues, e também atuando sob direção de Márcio Meirelles e José Possi Neto, foi na dança que Alice encontrou a sua “menina dos olhos”.
Graduou-se em dança pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e logo entrou na companhia de balé do Teatro Castro Alves, da qual fez parte desde 1984 como bailarina e solista, além de professora de Pilates e coordenadora do Núcleo de Saúde do Bailarino, até 2019 quando se aposentou. Uma lesão no joelho em 1985, fez com que ela parasse por um ano e voltasse toda a sua energia ao meio acadêmico. Arrumou as malas e escolheu o California Institute of The Arts (CAL ARTS), no condado de Los Angeles, para cursar mestrado em coreografia. Mas Alice não se encantou logo de início com a disciplina obrigatória de Pilates que era ofertada aos estudantes. “Eu não gostava muito das aulas… queria dançar, era jovem e na época não percebi imediatamente o valor do trabalho. Eu queria saber de técnicas para dançar”. Um dia uma amiga que era apaixonada pelo Pilates a convidou para conhecer um dos equipamentos que a escola tinha numa salinha, um tal de Reformer – conhecida hoje também como “a cama” de Pilates. A coisa mudou de cenário: “eu finalmente entendi o que o Pilates poderia fazer pela minha dança”.
O objetivo de atrelar o Pilates à dança é, além de trazer muita consciência corporal, também refinar movimentos e conhecimento aprofundado das ciências do movimento, além de prevenir e até tratar lesões que podem ser bem frequentes nessa área profissional. A experiência de conexão com o Método, fez com que Alice a partir daí começasse não só a frequentar as aulas como a fazer uma formação em paralelo com Marie Jose Blom (hoje uma sumidade do Pilates no mundo). Mas quando Alice teve que voltar ao Brasil, não chegou aqui sozinha: vendeu fogão e geladeira, um fusquinha que havia comprado num leilão, e depois de pagar sua formação, comprou seu primeiro Reformer, e assim montou o primeiro estúdio brasileiro de Pilates na sala de sua casa. Em um ano, já tinha fila de espera. Encomendou mais uma máquina. Outros alunos seus, que também eram bailarinos se interessaram em dar aula. Ela os treinou e eles passaram a dar aulas no seu estúdio: “A coisa foi crescendo desse jeito, organicamente, com a demanda natural que ia surgindo por conta do resultado do trabalho”.
No início era difícil viver apenas da dança, e Alice então foi modelo, manequim, dava aula de expressão corporal para modelos; foi cantora de Carnaval ao lado de Daniela, Ivete e também Durval Lélis e Ricardo Chaves. Quando introduziu o Pilates, conseguiu uma maior estabilidade, dando aulas de manhã e de noite, e a cantoria ficou para os finais de semana, quando viajava as Bandas Pinel e depois a Banda Eva. Só que a fama do método foi crescendo. E foi crescendo de tal forma que a bailarina teve que parar de cantar profissionalmente e tirar o estúdio do conforto do lar e arrumar um espaço só para ele. Logo vieram mais três estúdios em parceria com suas alunas. Outra coisa que começou a incomodar: a importação de equipamentos do exterior. A gota d’água veio quando Alice teve uma encomenda perdida por seis meses no mar. “Trocava de navio, tinha greve no porto… Aí eu falei, sabe de uma? Vou começar a produzir esse troço”. Entrou em contato com um de seus alunos, o arquiteto Claudio Soares – que hoje é seu marido –, propondo começarem a fabricar os equipamentos no Brasil. O dono Balanced Body, fábrica nos EUA, com quem Alice já tratava há quase 10 anos, cedeu a licença, e a dupla montou em 1999 a primeira fábrica de equipamentos de Pilates do país – a Physio Pilates Equipamentos, que funciona hoje no CIA (Centro Industrial de Aratú), município de Simões Filho, na Região Metropolitana de Salvador.
Hoje, mãe de duas filhas, Alice diz que aprende muito com elas sobre si mesma, sobre a condição da mulher na nossa sociedade hoje, e através delas percebeu como não se dava conta do machismo que sofreu toda a vida, no dia a dia, em diversas situações. Despertando a consciência para o tanto que nossa cultura oprime a mulheres brasileiras, percebeu como havia sido um ponto fora da curva no quesito autonomia, empreendedorismo e “inovação”. É fundadora da Physio Pilates – Polestar Brasil, empresa licenciada pela Polestar Education para o Brasil, e pela Balanced Body e pela Gyrotonic para a América do Sul. No Brasil, foi a pioneira na implantação e fomento ao Método Pilates. Sua primeira certificação em Pilates foi pela Long Beach Dance Conditioning, em 1990, e em 1991 retornou ao Brasil para implantar o Pilates no país, ministrando aulas no seu estúdio em casa e no Balé do TCA. Em 1998, obteve sua segunda certificação em Pilates pela Polestar Education, empresa com atuação mundial na formação de instrutores deste Método. Tornou-se licenciada com exclusividade pela Polestar Pilates para todo o Brasil.
De Salvador, Alice Becker expandiu o Método para vários estados brasileiros e até outros países. Hoje, os profissionais treinados pela Physio Pilates – Polestar Brasil, são requisitados em várias partes do mundo. A Physio Pilates é ainda o único fabricante no mundo, de equipamentos de Pilates com licenciamento pela Balanced Body, além da sua sede nos Estados Unidos. Alice Becker ministra cursos em universidades, congressos, conferências de Pilates, eventos de fitness e festivais de dança pelo Brasil, Europa, América do Sul, América do Norte e Oceania.
AMABÍLIA VILARONGA DE PINHO ALMEIDA
“Me sinto como uma fênix que ressurge das cinzas nesse cenário de mulheres tão jovens. Mas ainda muito preocupada com a sociedade, em especial com a pandemia e agora com esta guerra. Sinto que estou voltando às minhas origens. Comecei a minha trajetória defendendo a paz, lutando contra a guerra, quando os Estados Unidos invadiram a Coreia em 1950. Agora temos essa guerra absurda da Rússia contra a Ucrânia. Vou terminar meus dias lutando pela paz”. Assim Amabília Almeida, 93 anos, se sente em relação à homenagem a ela no prêmio Barra Mulher.
Professora primária de Jacobina, interior da Bahia, nascida em 1929, na Fazenda Barra, distrito de Itaitu, Amabília veio a Salvador para continuar os estudos. Em 1947, tornou-se professora pública do Estado, atuando no Centro Educacional Carneiro Ribeiro (Escola Parque), seguindo os ideais de Anísio Teixeira. “Sempre militei na área social e acabei na política porque o social e a política andam juntos”, afirma. Em 1964, foi cassada e aposentada compulsoriamente, devido à sua atuação política em defesa dos direitos das mulheres e da educação.
Casada e mãe de três filhos, não quis tornar-se apenas uma dona de casa e, “como não sabia fazer outra coisa além de lecionar”, fundou sua própria escola, junto com outras colegas. Assim nasceu a Escola Experimental, fundada em 1965, na Vila Laura, em Salvador, inspirada nos ideais de Anísio Teixeira, voltada para formar verdadeiros cidadãos. Quando a escola já estava consolidada, era hora de pensar um pouco mais na cidade. E, na primeira eleição após a redemocratização, em 1982, foi eleita vereadora por Salvador. Sua motivação foi devolver à cidade tudo de bom que ela a havia proporcionado. Sua atuação pelos direitos das mulheres e pela educação lhe abriu o caminho para tornar-se, em 1987, a primeira mulher Deputada Estadual Constituinte. “Há 35 anos eu era a única mulher na Assembleia Legislativa. Hoje existem 10. Ainda é pouco, mas estamos crescendo”, descreve.
Quando deixou a política, mas não a militância, como ela mesma diz, voltou a dedicar-se à escola e criou o Hotel Fazenda Candeal, que nasceu como um projeto pedagógico para fazer com que as crianças tivessem contato com a vida no campo, mas que hoje é um empreendimento na área do turismo rural, situado a 94km de Salvador, no município de Conceição do Jacuípe. Hoje, aos 93 anos, viúva, Amabília é a matriarca da família com três filhos, nove netos e cinco bisnetos. Tem a cabeça muito boa que, segundo ela é o que sustenta o corpo, razão da sua vitalidade e também razão pela qual precisa de uma bengala para se locomover, fruto de uma “estrepolia”. “Escorreguei na grama quando dava uma caminhada para verificar uma cerca na fazenda. Como estava sozinha, tive dificuldade para me levantar. Meu pai dizia que onça não sobe em pau fino, mas perto de mim havia uma árvore, mas era de pau grosso. Aí fui me arrastando até ela e pensei é hoje que a onça vai subir no pau grosso”, conta com bom humor.
Angeluci Figueiredo
Tímida, mas cheia de autenticidade, a baiana de Amargosa Angeluci Figueiredo não tem uma receita para o sucesso. Formada em Filosofia e tendo trabalhado como fotógrafa em um grande jornal de Salvador durante 15 anos, foi a paixão pela Gastronomia que a fisgou de jeito! Anfitriã por natureza, Angeluci sempre gostou de receber as pessoas e fazê-las se sentirem em casa. Sem pressa, cada uma no seu tempo, aproveitando o que a vida tem de melhor. E foi durante uma reportagem sobre um restaurante à beira mar que surgiu a ideia do restaurante Preta, hoje um dos mais badalados da Bahia, frequentado por famosos e anônimos de vários estados e até de outras partes do mundo.
Mas nem tudo foram flores nesse percurso. Sem dinheiro para grandes investimentos, Angeluci vendeu um terreno que possuía para realizar o seu sonho: se tornar chef e dona do seu próprio restaurante. Ela então comprou uma casa em Ilha de Maré – onde foi a primeira localização do restaurante. Começou de forma singela e com poucos colaboradores, o mobiliário foi garimpado entre amigos que estavam querendo se desfazer de algumas peças, outros objetos foram resgatados e reciclados para o uso. Os primeiros dias após a abertura do espaço também não foram nada animadores, ninguém aparecia para provar os seus quitutes. Mas logo a fama da boa comida se espalhou e ela, que gosta de fazer tudo com simplicidade e muito amor, nunca mais parou.
Angeluci pode pilotar o que ela quiser: o fogão, seus negócios, sua vida e até mesmo o barco que a leva e a traz de Salvador. Doce, porém firme, sabe lidar como ninguém em situações em que precisa se impor, seja diante de uma atitude racista ou um episódio de machismo. Atualmente, o restaurante Preta possui cerca de 20 colaboradores sob direção direta de Angeluci e está localizado na Ilha dos Frades. Além de todas as barreiras ultrapassadas com o restaurante Preta, Angeluci deu um novo passo e inaugurou a Pousada Pretoca – localizada próxima ao restaurante – com o intuito de que as pessoas pudessem se aproximar da natureza e fugir da correria da cidade grande. Com apenas 6 suítes e poucos colaboradores, para um atendimento personalizado e especial a cada um, o espaço se transformou em um reduto natural localizado na Ilha dos Frades na Ponta de Nossa Senhora de Guadalupe.
CAP PM ALINE MUNIZ
Desde pequena, Aline se acostumou a ver sua mãe se dedicar em prol dos mais necessitados. Como diz o ditado, a palavra convence, mas o exemplo arrasta, então, não foi surpresa para ninguém quando viram a pequena Aline se tornar policial militar, desenvolvendo, através da farda, atividades de promoção humana. Hoje, mãe de dois filhos, de 6 e 11 anos, a CAP PM Aline Muniz é a comandante da Base Comunitária de Segurança do Calabar, primeira BCS implantada na Bahia e que até hoje é referência para as 19 Bases em todo o estado pelo trabalho social que desenvolve com aquela comunidade
Aline ingressou no Colégio da Polícia Militar, nos Dendezeiros, em 1994, na 6ª série do Ensino Fundamental de onde só saiu em 1999, após concluir o Ensino Médio. Pioneira, ela fez parte da primeira turma de meninas a ingressar naquele colégio que, até então, só aceitava meninos. Mas, logo que saiu do colégio da PM não abraçou a farda de vez e foi em busca de novas experiências. Cursou Turismo por dois anos na Faculdade Visconde de Cairu e trabalhou em outras áreas. Entretanto, sempre que encontrava seus ex-colegas de colégio trabalhando na PM, algo acontecia na sua mente e em seu coração.
Foi assim que no ano de 2004 decidiu entrar para a Academia de Polícia Militar da Bahia. Não prestou exame naquele ano porque não se sentia totalmente preparada, afinal, eram apenas nove vagas para mulheres. Se dedicou aos estudos com afinco e no ano seguinte entrou para a academia, formando-se Bacharela em Segurança Pública, Aspirante a Oficial, três anos depois.
Na sequência, foi trabalhar na 5ª CIPM – Companhia Independente de Polícia Militar, em Vera Cruz. Diariamente atravessava a Baía de Todos os Santos nas lanchinhas para chegar ao trabalho. Lá na ilha, foi comandante do 2º Pelotão e atuou no PROERD – Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência, voltado para ensinar as crianças a dizer não às drogas. Quatro anos depois, voltou à Salvador para atuar na 2ª CIPM, no Barbalho. Capoeirista, foi convidada a dar aulas de capoeira para crianças numa escola municipal na comunidade de Pela Porco. Seu trabalho com as crianças surtiu efeito e foi elogiado pelas outras professoras que perceberam a transformação no comportamento dos alunos depois das aulas de capoeira.
Em 2017, Aline foi nomeada comandante da Base Comunitária de Segurança do Calabar onde desenvolve até hoje inúmeros projetos sociais, muitos deles tendo o Shopping Barra como principal parceiro. “Criamos fortes laços com a comunidade através de uma atuação com as famílias”, relata. A BCS do Calabar oferece aulas de judô, karatê, jiu jitsu, capoeira, boxe, dança afro, ballet, inglês, passarela, futebol, bombeiro civil mirim e está para iniciar um curso de manutenção de microcomputadores. Também tem cursos profissionalizantes e uma parceria com a UPT – Universidade Para Todos, voltado à preparação para o Enem. “Acredito muito em projetos sociais envolvendo a PM. Gosto dessa aproximação que cultiva o respeito pela farda através da disciplina e não pelo medo”, explica.
Daniela Borges
A primeira mulher a presidir a Seção da Ordem dos Advogados do Brasil da Bahia (OAB-BA)
Baiana, nascida em Itapetinga, Daniela Borges é Mestre em Direito Tributário, formada pela Universidade Federal de Minas Gerais, professora de Direito Tributário e Direito Financeiro na UFBA e da Faculdade Baiana de Direito, advogada, mãe do Theo e do Bento, Sócia do Didier, Sodré e Rosa Advocacia e eleita a primeira presidente mulher da OAB-BA.
Ufa! Sem sombras de dúvidas, Daniela é um símbolo de inspiração para todas, sobretudo na área do Direito. Advogada há mais de 20 anos, iniciou sua carreira ainda jovem em Belo Horizonte, como advogada associada, vindo dois anos depois a ser coordenadora dos advogados tributaristas do escritório.
Ao chegar em Salvador, a busca pelo resgate da essência da advocacia baiana era a maior motivação para a advogada, que resolveu apostar em um novo momento da sua carreira profissional, atuando como advogada autônoma e professora universitária, chegando, mais tarde, a associar-se ao escritório Borges Advogados Associados.
Daniela já era conhecida dentro da OAB Bahia desde 2013, quando atuou como conselheira do grupo responsável pela construção e reconstrução de salas na sede da Seccional, assim como em 2016, sendo diretora tesoureira responsável pela implantação do Portal da Transparência, e como conselheira federal, marcando a OAB Nacional com a aprovação dos projetos de paridade e cotas raciais nas eleições da Ordem.
Hoje, como presidenta da OAB Bahia, Daniela concretiza o seu objetivo, integrando “Todos os elos da Democracia” em prol de um cenário justo e de transparência para todos.
Gisa Maia
“Não é possível ser feliz se não houver felicidade para os que estão à sua volta”.
Não foi por acaso que ela enveredou para o caminho da filantropia e da solidariedade. Adalgisa Souto Maia, mais conhecida como Gisa Maia, sempre teve em casa a fonte de inspiração de que precisava para olhar o outro de uma forma diferenciada. Ela aprendeu com os seus pais e a Igreja Católica, da qual sempre fizeram parte, a ter compaixão, sobretudo aos que mais sofriam, além de um imenso amor por Jesus. Mas foram obstáculos difíceis de superar no caminho que a fizeram direcionar a sua vida para o amor ao próximo. Gisa Maia é fundadora da Associação das Missionárias da Fraternidade Cristã (MFRAC), atuando em projetos que visam melhorias na educação das mais de 200 crianças que são atendidas pela Creche Geraldo e Helena Belfort e pelo Projeto Talitha Kumi.
Dos quatro filhos que Gisa deu à luz, dois partiram antes dela. Um deles, aos 5 anos, em um trágico acidente, em pleno Natal. Tamanha dor tinha que ter um sentido. Gisa entendeu o que estava escrito nas linhas tortas da vida ao atender um menino que bateu à sua porta, com a mesma idade que o seu filho, pedindo comida. Gisa viu o quanto ele estava mal cuidado e ficou tocada com as condições precárias daquela criança. Mais tarde, o menino, que andava em bando, acabou levando a bicicleta do seu filho. E foi aí que Gisa percebeu que o caminho daquele ser humano seria cair na criminalidade e decidiu ir atrás dele.
Nascida em Salvador, moradora do bairro nobre Caminho das Árvores, ela nunca tinha se deparado com tamanha miséria. Na Saramandaia, havia crianças andando sem roupa pelas ruas, muita pobreza, pessoas passando fome. Inclusive, a irmã daquele menino havia morrido por não ter o que comer. A dor dessa mãe, que também perdeu um outro filho para um tumor no cérebro, não seria cicatrizada se não fosse a possibilidade de torná-la mãe de tantas outras crianças. E foi o que Gisa fez. Arregaçou as mangas e levou a experiência que tinha como diretora de uma escolinha para oferecer Educação a outras comunidades.
Há 40 anos, as experiências vividas e registradas em um diário foram entregues a um editor de São Paulo que o transformou no livro “Saramandaia – Histórias de Areia e Lama”. A publicação se tornou um sucesso na Bahia e em outros estados. Aliás, a missão de Gisa também extrapolou fronteiras, com unidades da MFRAC na Paraíba e em Alagoas, além de parcerias que alcançam até o âmbito internacional, como a que se consolidou com um grupo suíço, em colaborações com a instituição. E apesar de toda essa constelação de estrelinhas que movem o universo no qual Gisa está inserida, os desafios são imensos. A necessidade de ampliação do grupo de voluntariado, principalmente na área de Saúde, é grande. Além disso, a entidade necessita de solidariedade, sobretudo de empresários que possam contribuir para a formação de novas oficinas, com as de teatro e futebol para adolescentes.
Hoje, o trabalho construído por Gisa Maia no Recanto da Transfiguração – fundado há 20 anos a partir de um grande terreno doado pela família Belfort; tem como pilar o binômio Educação/Saúde. A creche atende crianças de até 4 anos e, dos 5 aos 13 anos, elas participam de atividades lúdicas, pedagógicas e criativas, através de oficinas de artes, música, informática, esportes, entre outras. Além disso, recebem reforço escolar, alimentação e assistência médica. No posto de saúde há pediatra, ginecologista, dentista, psicólogo, entre outros profissionais.
Segundo Gisa, o Recanto da Transfiguração leva no nome a proposta justamente de “mudar de figura” a realidade de pessoas em situação de vulnerabilidade social, transformando vidas. Nesse espaço também funciona um retiro espiritual e a primeira fábrica de hóstias do Nordeste, que é tocada 100% por mulheres. Afinal, o grande desejo de Gisa, que também é mãe de duas filhas, é de que as mulheres se empoderem, pois são capazes de mover barreiras, proteger, conciliar, fecundar, gerar vida e beleza no mundo.
JACY ANDRADE
Jacy Andrade se define como uma mulher que, como tantas outras, sempre teve que desempenhar diversos papéis, conciliar responsabilidades distintas, mas sempre prezou pelo equilíbrio para vencer os desafios e realizar seus sonhos. Mulher, esposa, mãe de três filhos e avó de cinco netos, Jacy teve grande parte de sua formação sendo realizada em escolas públicas, por isso, tinha um objetivo muito claro de que sua carreira profissional precisaria retornar à sociedade o que ela aprendeu. Perseguindo essa meta, ao longo de mais de 40 anos, ela contribuiu com projetos muito importantes para a área da saúde na Bahia e no Brasil.
Dra. Jacy é médica infectologista com graduação e residência pela Universidade Federal da Bahia (Ufba), doutorado em Medicina Interna e especialização em Cuidados Paliativos pelo Hospital Sírio Libanês. Desde que se formou, se engajou em processos de assistência para comunidade, atendendo no setor ambulatorial do Hospital das Clínicas em Salvador (BA).
Ela mesma destaca como uma de suas principais contribuições, e uma das que mais se orgulha, ter implantado, em 2002, e coordenado o Centro de Referência de Imunobiológicos Especiais (CRIE) da Ufba, que têm como finalidade facilitar o acesso da população, sobretudo dos portadores de condições especiais de saúde como imunodeficiência congênita ou adquirida, anemia falciforme, cardiopatias e outras, para a prevenção das doenças que são objeto do Programa Nacional de Imunizações. O CRIE tem atividades assistenciais, mas também didáticas, contribuindo para a formação de diversos profissionais.
Dra. Jacy dedica-se ao estudo sobre infecções comunitárias, HIV/aids, cuidados paliativos de fim de vida (Hospice) e eventos adversos pós vacinais. Membro do Comitê Imunização da Sociedade Brasileira de Infectologia, também foi membro da Comissão de Calendários da Sociedade Brasileira de Imunizações por 15 anos.
É defensora da vacinação como estratégia de prevenção de doenças. Nesses dois anos de pandemia, se desafiou a orientar a população esclarecendo sobre a importância da vacina, disseminando informações seguras e corretas, participando de eventos, concedendo entrevistas e orientando estudantes e profissionais de saúde.
Atualmente, é coordenadora acadêmica da Florence EC – Ensino e Capacitação, braço educacional da Clínica Florence que desenvolve competências que sejam aplicadas à prática de Cuidados Paliativos e de Reabilitação, tendo como público-alvo profissionais de saúde de todo Brasil. Seu foco continua sendo contribuir com as melhores práticas na área da saúde, formando as atuais e futuras gerações de profissionais.
Majur
“Deixa eu te levar pra tomar um café no meu mundo favorito onde o sol beija nossa pele nas manhãs de tons azuis”, faixa – Andarilho Majur
“Seja o que quiser ser, o importante é ser você”, essas são palavras da Cantora e compositora Majur, na música “Seja o que quiser”, faixa que compoe o disco Ojunifé, primeiro disco de estudio da artista, lançado em 2021. Ojunifé, em Orubá “olhos do amor” expressam a verdadeira essência afrocentrada de amor, identidade e desconstrução levantada por Majur.
A voz marcante e o carisma irreverente da cantora, compõem o espaço perfeito de discussão social abordando temas como relações afetivas e empoderamento feminino, sobretudo quanto a imagem da mulher trans e travesti preta. Baiana, nascida no bairro do uruguai, a cantora iniciou seu contato com a musica ainda aos 5 anos de idade, no coral da Orquestra Sinfônica da Juventude de Salvador. Hoje compõe o cenário de novos artistas brasileiros, com músicas do gênero R&B e MPB, inspirada em cantores como James Brown, Tim Maia e Fat Family.
Revelada por Caetano Veloso, a artista já esteve presente em grandes momentos da música brasileira, como subindo ao palco do Rock in Rio 2019 com o Rapper Emicida, dando voz ao sucesso do cantor “AmarElo” e até mesmo no carnaval de Salvador nos trios da Daniela Mercury. Antes de ser conhecida nacionalmente a cantora já embalava as noites soterapolitanas cantando em bares da Barra, com uma banda formada em 2016. O primeiro trabalho da cantora foi lançado em 2018 “Colorir”, sendo acompanhado por “20over” (2018) e “Andarilho” (2020) a música mais ouvida da artista nas plataformas de streaming, de sua autoria.
No seu ultimo disco, o Ojunifé, Majur conta com a presença das artistas Luedji Luna e Liniker, produzido por Ubunto, Dadi e dirigido pela própria cantora. O Disco é um mix de emoções e sentimentos, abordando vivências e experiências adiquiridas pela artista nos ultimos anos.
Majur é um simbolo de superação e empoderamento, de descobertas e aceitações… de aceitar e além de tudo, afrocentrar!
Monique Evelle
“Eu quero mudar o jogo para mim e para outras pessoas pretas. Isso está no centro de tudo”
Sem dúvida, as inovações movem o mercado de empreendedorismo no mundo, e está sempre à frente quem busca cada vez mais por inovações nas metodologias de mercado, em busca de transformações. Foi por essas mudanças que a baiana Monique Evelle debruçou sua vida, acumulando realizações marcantes para o ramo de negócios e tecnologia no país.
Monique iniciou a sua trajetória ainda cedo, aos 16 anos, fundando o Desabafo Social, organização que utiliza a tecnologia e comunicação pelos direitos humanos, vindo futuramente a ser transformada num laboratório de tecnologias sociais aplicadas à geração de renda, comunicação e educação, promovendo a inserção feminina e relações no afroempreendedorismo.
Seguindo a ideia de ocupação e representatividade, em 2017 Monique passa a fazer parte da equipe do Profissão Repórter, da Rede Globo, vindo a ser finalista em 2018 do Troféu Mulher Imprensa, com a reportagem sobre Feminicídio na categoria de Melhor Reportagem Especial sobre Mulheres.
Em 2019, Monique, buscando compreender e suprir a necessidade de discussão quanto à participação feminina no mundo dos negócios, lança o seu primeiro livro chamado “Empreendedorismo Feminino – Olhar Estratégico sem Romantismo, tratando discussões sob o ponto de vista feminino.
As realizações seguem nos momentos respectivos até os dias de hoje, com o nascimento da Inventivos, plataforma de desenvolvimento de novos empreendedores, criado em 2020, assim como sua contratação como Consultora de Inovações para o Nubank, promovendo ações internas e externas de inovação, diversidade e inclusão entre outras iniciativas que buscam sempre o acolhimento da população preta e feminina.
“Ao decidir trabalhar com criatividade, inovação e tecnologia, eu tinha ciência dos desafios que enfrentaria em relação ao racismo estrutural. Ele está em tudo. As Práticas de inclusão e diversidade precisam extrapolar para fora dos prédios das empresas e se tornarem reais. Onde quer que eu vá, levo essa verdade comigo”, afirma Monique.
Sandra Aparecida
Natural de Paraguaçu Paulista, a professora doutora Sandra Aparecida de Assis Rodowanski mudou-se para a Bahia em 2005, quando foi aprovada em um concurso para professora da Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs). Escolheu ser farmacêutica por gostar da área de saúde e pela possibilidade de atuar em muitas áreas, como indústria de alimentos ou indústria farmacêutica. É graduada em Farmácia Bioquímica e mestra e doutora em Biotecnologia. Atualmente, é professora plena, docente permanente e orientadora dos Programas de Pós-Graduação em Biotecnologia e em Ciências Farmacêuticas, coordenadora do Laboratório de Enzimologia e Tecnologia das Fermentações e vice-coordenadora do Programa de Pós Graduação em Biotecnologia (PPGBiotec) da Uefs.
Casada, Sandra nas horas vagas gosta de caminhar na praia, ver filmes, ir ao cinema, praticar jardinagem e estar com a família e amigos. Enquanto professora e pesquisadora, pensa em contribuir para a formação de mulheres que atuam em áreas de ensino e pesquisa, especialmente nas áreas de Farmácia e Biotecnologia. “Que possamos exercer nossas funções visando melhorar o entorno em que estamos inseridas”, esse é o seu pensamento. Para o futuro, o seu desejo é de que as mulheres tenham mais representação na política e ocupem mais postos de liderança.